Reflexo
Acordo em uma sala cheia de espelhos. Quatro paredes...
Estou presa.
Sinto que já estive aqui antes... não consigo me lembrar
onde está a saÃda e sinto que, quanto mais tempo passo nesta sala, algo
fatÃdico acontecerá.
- Olá.
Eis que me viro e vejo a minha surpresa: encontro-me na sala
com outra de mim. Mas ela aparenta ser diferente...
- Quem és tu? – indago, mais perplexa que surpresa
- Eu? Ora, que pergunta não? Eu sou você.
- Como?
- Eu sou sua outra parte.
- Outra parte?
- Sim, Sou a nossa parte racional, sou a parte que todas as
pessoas conhecem.
- Se todos lhe conhecem, então... quem sou eu?
- Você? Ah! Você é a criatura que se esconde, que se
reprime. Eu sou seu superego, você, é simplesmente o nada.
- Como assim?
- Bem... Eu sou nossa mente, tenho todo o poder sobre você
- E o que eu sou?
- O nosso coração. Que improfÃcuo não?
- Então... por que existo?
- Vocês, os lÃricos, só servem para atrapalhar a vida de
nós, os racionais. Trazem sofrimento e desnorteiam nossos pensamentos... de
nada servem!
- Mas então, temos algum controle sobre vocês, não temos?
- De certa forma, mas do que adianta? Vocês optam por
segredo... que tolice não? Guardam rancor, possuem emoções por outros de nossa
espécie, amizade... tristeza... amor...
- Amor?
- Sim, o sentimento mais masoquista que existe.
- Por que dizes isto?
- Oras, o amor consegue afetar a todos de uma situação...
Vocês não possuem audácia suficiente para se declarar... e caso não é
correspondido, se passa a ser um masoquismo.
Olhando nos olhos desta garota, percebo a nossa diferença:
sua rigidez. Volto a minha questão inicial: Sair desta sala.
- Ser racional, tu que sabes de tudo, poderias responder-me
onde se encontrar a saÃda?
- SaÃda? Há! Não sejas tola criança! Para pessoas como
vocês, não existe saÃda.
- Por que?
- Vocês vivem preso a sete chaves, são monstros que não
devem se expor, ou nem mesmo se expressar.
A medida que a garota fala, grilhões aparecem em meus pulsos
e começo a entender o que ela insinua repetidamente.
Eu sou a parte oculta, a parte que é aprisionada em sua
própria esfera. Sou aquela que hesitou diversas vezes para abrir os lábios e
conseguir pronunciar simplesmente o nome... reprimida por humilhação, aquela
que se arrepende de coisas que não fez. Apenas um espectro...
Eu sei quem
sou...
Sou o medo
- Por que temos que ser tão presos assim?
- Vocês afetam o nosso sistema, não merecem liberdade.
- Nós os ameaçamos?
O Silêncio agora paira neste recinto... A elucidação é plena
e agora vejo algo além de minha visão.
Mesmo com todos os meus defeitos, Sou a paz e a guerra, a
tristeza e alegria , o ódio e o amor.
Eu sou a vida.
- Eu tenho o poder sobre nós, eu tenho o comando. – Declaro
finalmente –
- Não, não tem. A racionalidade sempre estará acima de tudo.
Já sei aonde estou: estou dentro de minh’alma, dentro de
meus pensamentos, dentro de meu coração. Aqui, eu possuo todo o controle.
- Estilhace-se
oh espelho!
Mostre-me a
saÃda
Estilhace-se
oh espelho!
Dê-me a
vida.
Liberta-me
Mostra-me o
mundo
Liberta-me
Quero viver
a cada segundo
Liberta-me
Cura minha
ferida
Liberta-me
E traz-me a
vida.
O Espelho e
a garota se estilhaçam, e percebo, que tudo aquilo era apenas um sonho...
Um Sonho...
Os sonhos às vezes estão tão próximos da realidade, que nem
percebemos.