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junho 2014
Pequeno Mundo
E no meu pequeno mundo você ainda está lá
Me esperando nas estrelas
Com nada a se importar.
E no meu pequeno mundo, eu vou ao teu encontro
Ao ver o teu sorriso
Sei que estás pronto
Naquela areia fria
Aguardo teu abraço
O momento em que me estilhaço
Que a lua seja nossa testemunha
E que este seja o amor
Que o mar tanto recunha
Me esperando nas estrelas
Com nada a se importar.
E no meu pequeno mundo, eu vou ao teu encontro
Ao ver o teu sorriso
Sei que estás pronto
Naquela areia fria
Aguardo teu abraço
O momento em que me estilhaço
Que a lua seja nossa testemunha
E que este seja o amor
Que o mar tanto recunha
Chorar
E hoje choro, choro como nunca pude chorar
Chora minh'alma, chora em meu seio
Clamo, clamo por tranquilidade
Imploro pela paz que tanto almejei
Aquela que chegará a silenciar todas as minhas dúvidas
Aquela que me acalentará e colocará para ninar
Aquela que sei que demorarei para encontrar.
E por hoje apenas
Deixe-me chorar
Chorar incontrolavelmente.
Não questione meus motivos
Silencie
E apenas escute meus suspiros
Saber
Sei que minhas palavras
Um dia estarão apagadas
Pairando em ares desconhecidos
Junto aos meus pensamentos
Vagos como o vento
Sei que um dia serei esquecida
Enquanto isso, guardarei minha vida
Meus desejos e anseios
Que carrego em meu peito
Não almejo a fama
Não imploro piedade
Apenas como a noite
Desejo serenidade
E levarei comigo
Minhas dores e meu sufoco
E deixarei convosco
As lembranças do mês de Agosto.
Um dia estarão apagadas
Pairando em ares desconhecidos
Junto aos meus pensamentos
Vagos como o vento
Sei que um dia serei esquecida
Enquanto isso, guardarei minha vida
Meus desejos e anseios
Que carrego em meu peito
Não almejo a fama
Não imploro piedade
Apenas como a noite
Desejo serenidade
E levarei comigo
Minhas dores e meu sufoco
E deixarei convosco
As lembranças do mês de Agosto.
Frase do Dia
"Minha liberdade se encontra em três pontos"
- M.Gz
Epigrama nº 1
Por mais que as barreiras sejam fortes, uma hora elas desabam.
As águas se espalharão por este mundo, sem rumo e direção
E todo meu sofrimento ali estará.
Por mais que os pássaros estejam presos
Gritarei pelo bater de suas asas
Defenderei seus cantares
Para um dia, me libertar.
Por mais que minha voz não exista
Por mais que minha luz seja fraca
Lutarei pelo meu pulsar
Até meu último suspirar.
O Pulsar
As vezes, perdemos toda e qualquer esperança que escondÃamos dentro de nossos pensamentos, sem saber, que aquele resquÃcio de luz poderia ser a chave para novos mundos. As vezes, a pequena luz está tão próxima que não conseguimos ver. As vezes... não.
Minha visão está turva e tento identificar onde estou. O ambiente possui um aspecto de frieza e ao mesmo tempo familiaridade. As paredes são alabastrinas, as janelas estão fechadas cobertas por persianas azuis longas, e logo aquém, uma poltrona de descanso. Ao olhar para o lado esquerdo, me deparo com bomba de infusão e outros equipamentos... Estou novamente no hospital.
Por mais que “lutar” fosse a única palavra que venho escutando durante esses tempos, estava exausta disso. Cheguei a perguntar-me em silêncio se o famoso “descanso eterno” não seria a melhor opção. Mas simplesmente, não conseguia abrir mão de minha vida, pelo menos, não do resto dela.
Mesmo que pareça impossÃvel, ainda tenho o pulsar da esperança. Com o estado agravado do tumor, vejo o sofrimento de meus pais... suas lamúrias ocultadas em sorrisos forçados, sorrisos que tentam nos transmitir utopias, sorrisos repletos de fé, sorrisos que um dia talvez se apaguem...
A morte se aproxima como algo iminente e não temo. Apenas almejo que saibam da existência dele: Aquele que foi meu amigo em todas as horas, Aquele que me conectava a outros mundos. Aquele, que conta a minha história...
- Kat?
Curioso, me encarava sem saber ao certo o que fazer. Apesar de seu cansaço, consigo ver os olhos que tanto sussurraram em silêncio, os olhos que me fizeram ver novamente a esperança que um dia pensei ter partido...
- Não é contagioso, sabia? - O trocadilho não pareceu lhe agradar. –
- Isso é sério Kat...
A única coisa que não desejava neste momento era isso: a seriedade.
- Posso te pedir uma coisa?
E com largos passos, se aproximou de minha cama, sentou-se na beirada e fixou seus olhos em mim... como da primeira vez.
- Deita comigo?
E como uma ordem fosse dada, ali estava ele. Deitado ao meu lado, segurava minhas mãos de forma tão delicada como se fosse um vidro prestes a se quebrar. E me lembrou de todas as promessas que havia feito, e implorou meu perdão por não tê-las cumprido. Apenas cerrei meus olhos e sussurrei em seu ouvido:
- Recorda-me.
Ele caminhou em direção a uma estante e retirou o caderno de minha vida.
- Do que você gostaria de recordar primeiro?
- Do princÃpio oras! – Mesmo que estivesse em meus últimos momentos, possuÃa uma paz inexplicável, e era exatamente isto que queria passar para ele... queria que, assim como eu, estivesse preparado para o que estava próximo. –
E novamente, voltou a se recostar ao meu lado. Mostrou o sorriso de moleque travesso que brincava a procura de um tesouro, sorriso que se alargou ainda mais quando leu a primeira página de minhas medÃocres anotações
O Tumor apenas piora... como eles desejam que eu tenha fé em alguma mudança? Como se não bastasse, um idiota conseguiu acabar com o resto do meu dia. Quando consegui ver a solução de todos os meus problemas, ele tenta bancar o papel de herói.
Andava em meio aos trilhos, pensando no que ainda restava fazer nesta vida. Carregava em meu peito um pequeno papel, e em meus olhos, lágrimas que nunca jorrariam para fora de minh’alma.
Implorei aos ventos uma resposta, uma solução. Eis que me viro e encontro um metrô se aproximando cada vez mais depressa e percebi que aquele poderia ser meu fim. Oras bolas, finais não precisam ser felizes, e muito menos eternos. Simplesmente desejava acabar com minha tortura, e ali estava a oportunidade.
- Então, você me achava um idiota? – Indagou Lucas com uma expressão duvidosa –
- Um completo idiota. – Afirmei, com o maior cinismo possÃvel -
- Vamos ver o que encontramos nas próximas páginas...
Sua atenção estava voltada novamente ao caderno, seus olhos pairavam sobre um novo tÃtulo: “Lucas”
E por mais que tentei odiá-lo, falhei. E por mais que tentei afastá-lo, fracassei.
Foi nele, onde encontrei uma fagulha de esperança para conseguir segurar meu sofrimento. Compartilhei meus segredos mais profundos, com exceção deste fardo sombrio que atormenta meus dias e minhas noites.
Por ele, e apenas por ele, desejaria viver um pouco mais.
Lágrimas escorriam lentamente em sua face. Lágrimas que eu poderia enxugar, mas a dor que ele sentia, não poderia apagar. Nada mais poderia ser feito neste caminho, a não ser prosseguir...
E um dia, aquele garoto estranho fez-me sentir... viva?
Dentre tantas cobranças, ele apenas me pediu uma música... uma música para que pudesse recordar de mim, nos melhores e nos piores momentos.
Apenas uma música.
Minhas mãos fraquejaram e minha visão pôs-se a embaçar. Eu sabia que minha vida estava se esvaindo de minhas mãos, e o escarlate de meu corpo se movimentava lentamente. Antes que pudesse perceber, o fiz prosseguir mais páginas adiante, com minha última anotação.
Redescobri a esperança que havia perdido, descobri que meus sonhos ainda estavam vivos, assim como meu corpo, assim como meu coração.
Minha esperança. Meu Coração.
Este caderno é apenas algo que deixo para que, minha memória seja eterna.
Desejo que minha esperança continue a pulsar neste mundo, quero dar esta oportunidade a outra pessoa que agora necessitará mais de um coração que eu. Quero que ela veja tudo o que o mundo pode lhe oferecer, e quero que você a guie, como me guiou...
- Mas ainda existe uma página em branco... – Ele me encarou, com seus olhos marejados –
- Escrevas o nosso epÃlogo.
Em meio a uma escuridão infinita, a nossa música se espalhava naquele recinto, onde não sabÃamos determinar o começo ou fim.
Não vi seus olhos esperançosos, mas senti o seu abraço, a única certeza que tinha era de sua presença. Nossos pensamentos pairavam, sem se revelarem, e cada vez mais indagava qual enigma escondiam.
Apenas o escutei sussurrar:
- Eu te amarei para sempre, Katarinne.
E recordei-me, de tudo o que já havia acontecido, como cheguei até aqui.
Com aquelas últimas palavras, percebi que, o perfume de minha flor não seria esquecido... Eu não seria esquecida...
- Te amarei, até meu último suspirar
Até meu último suspirar...
Até meu últ...
Minha visão está turva e tento identificar onde estou. O ambiente possui um aspecto de frieza e ao mesmo tempo familiaridade. As paredes são alabastrinas, as janelas estão fechadas cobertas por persianas azuis longas, e logo aquém, uma poltrona de descanso. Ao olhar para o lado esquerdo, me deparo com bomba de infusão e outros equipamentos... Estou novamente no hospital.
Por mais que “lutar” fosse a única palavra que venho escutando durante esses tempos, estava exausta disso. Cheguei a perguntar-me em silêncio se o famoso “descanso eterno” não seria a melhor opção. Mas simplesmente, não conseguia abrir mão de minha vida, pelo menos, não do resto dela.
Mesmo que pareça impossÃvel, ainda tenho o pulsar da esperança. Com o estado agravado do tumor, vejo o sofrimento de meus pais... suas lamúrias ocultadas em sorrisos forçados, sorrisos que tentam nos transmitir utopias, sorrisos repletos de fé, sorrisos que um dia talvez se apaguem...
A morte se aproxima como algo iminente e não temo. Apenas almejo que saibam da existência dele: Aquele que foi meu amigo em todas as horas, Aquele que me conectava a outros mundos. Aquele, que conta a minha história...
- Kat?
Curioso, me encarava sem saber ao certo o que fazer. Apesar de seu cansaço, consigo ver os olhos que tanto sussurraram em silêncio, os olhos que me fizeram ver novamente a esperança que um dia pensei ter partido...
- Não é contagioso, sabia? - O trocadilho não pareceu lhe agradar. –
- Isso é sério Kat...
A única coisa que não desejava neste momento era isso: a seriedade.
- Posso te pedir uma coisa?
E com largos passos, se aproximou de minha cama, sentou-se na beirada e fixou seus olhos em mim... como da primeira vez.
- Deita comigo?
E como uma ordem fosse dada, ali estava ele. Deitado ao meu lado, segurava minhas mãos de forma tão delicada como se fosse um vidro prestes a se quebrar. E me lembrou de todas as promessas que havia feito, e implorou meu perdão por não tê-las cumprido. Apenas cerrei meus olhos e sussurrei em seu ouvido:
- Recorda-me.
Ele caminhou em direção a uma estante e retirou o caderno de minha vida.
- Do que você gostaria de recordar primeiro?
- Do princÃpio oras! – Mesmo que estivesse em meus últimos momentos, possuÃa uma paz inexplicável, e era exatamente isto que queria passar para ele... queria que, assim como eu, estivesse preparado para o que estava próximo. –
E novamente, voltou a se recostar ao meu lado. Mostrou o sorriso de moleque travesso que brincava a procura de um tesouro, sorriso que se alargou ainda mais quando leu a primeira página de minhas medÃocres anotações
O Tumor apenas piora... como eles desejam que eu tenha fé em alguma mudança? Como se não bastasse, um idiota conseguiu acabar com o resto do meu dia. Quando consegui ver a solução de todos os meus problemas, ele tenta bancar o papel de herói.
Andava em meio aos trilhos, pensando no que ainda restava fazer nesta vida. Carregava em meu peito um pequeno papel, e em meus olhos, lágrimas que nunca jorrariam para fora de minh’alma.
Implorei aos ventos uma resposta, uma solução. Eis que me viro e encontro um metrô se aproximando cada vez mais depressa e percebi que aquele poderia ser meu fim. Oras bolas, finais não precisam ser felizes, e muito menos eternos. Simplesmente desejava acabar com minha tortura, e ali estava a oportunidade.
Cerrei meus olhos a espera do desconhecido,
Até que um se atirou bem no meu caminho.
- Então, você me achava um idiota? – Indagou Lucas com uma expressão duvidosa –
- Um completo idiota. – Afirmei, com o maior cinismo possÃvel -
- Vamos ver o que encontramos nas próximas páginas...
Sua atenção estava voltada novamente ao caderno, seus olhos pairavam sobre um novo tÃtulo: “Lucas”
E por mais que tentei odiá-lo, falhei. E por mais que tentei afastá-lo, fracassei.
Foi nele, onde encontrei uma fagulha de esperança para conseguir segurar meu sofrimento. Compartilhei meus segredos mais profundos, com exceção deste fardo sombrio que atormenta meus dias e minhas noites.
Por ele, e apenas por ele, desejaria viver um pouco mais.
Ele seria meu astrônomo
Eu seria sua estrela.
Lágrimas escorriam lentamente em sua face. Lágrimas que eu poderia enxugar, mas a dor que ele sentia, não poderia apagar. Nada mais poderia ser feito neste caminho, a não ser prosseguir...
E um dia, aquele garoto estranho fez-me sentir... viva?
Dentre tantas cobranças, ele apenas me pediu uma música... uma música para que pudesse recordar de mim, nos melhores e nos piores momentos.
Apenas uma música.
E eu lhe dei a verdade.
Minhas mãos fraquejaram e minha visão pôs-se a embaçar. Eu sabia que minha vida estava se esvaindo de minhas mãos, e o escarlate de meu corpo se movimentava lentamente. Antes que pudesse perceber, o fiz prosseguir mais páginas adiante, com minha última anotação.
Redescobri a esperança que havia perdido, descobri que meus sonhos ainda estavam vivos, assim como meu corpo, assim como meu coração.
Minha esperança. Meu Coração.
Este caderno é apenas algo que deixo para que, minha memória seja eterna.
Recorde-me como tua estrela
Aquela que sempre pode vê-la.
Aquela que sempre pode vê-la.
Recorde-se dos nossos melhores momentos,
Nossas palavras aos ventos.
Mas esqueça de todo o sofrimento e a saudade,
Recorde somente a nossa idade.
Desejo que minha esperança continue a pulsar neste mundo, quero dar esta oportunidade a outra pessoa que agora necessitará mais de um coração que eu. Quero que ela veja tudo o que o mundo pode lhe oferecer, e quero que você a guie, como me guiou...
Quando meus olhos nada mais enxergarem, cumpra este meu último desejo.
- Escrevas o nosso epÃlogo.
Em meio a uma escuridão infinita, a nossa música se espalhava naquele recinto, onde não sabÃamos determinar o começo ou fim.
Não vi seus olhos esperançosos, mas senti o seu abraço, a única certeza que tinha era de sua presença. Nossos pensamentos pairavam, sem se revelarem, e cada vez mais indagava qual enigma escondiam.
Apenas o escutei sussurrar:
- Eu te amarei para sempre, Katarinne.
E recordei-me, de tudo o que já havia acontecido, como cheguei até aqui.
Com aquelas últimas palavras, percebi que, o perfume de minha flor não seria esquecido... Eu não seria esquecida...
- Te amarei, até meu último suspirar
Até meu último suspirar...
Até meu últ...
Hoje
Hoje, a minha única certeza é que estou ao lado do proibido e não posso tocá-lo.
Isto significaria minha morte.
Morte aquela que já almejei um dia
Almejei que me levasse
Para onde não pudesse ser encontrada
Não pudesse ser julgada
Não pudesse ser apedrejada
Hoje, o mundo mudou.
Assim como minha mente
O tempo passou
Assim como meu espÃrito
Que o tempo levou.
Hoje, acordei com uma esperança
Um resquÃcio de luz de que tudo mudaria
Oh, que tolice minha!
Mas não desistirei
Até meu último suspiro
Lutarei.
Isto significaria minha morte.
Morte aquela que já almejei um dia
Almejei que me levasse
Para onde não pudesse ser encontrada
Não pudesse ser julgada
Não pudesse ser apedrejada
Hoje, o mundo mudou.
Assim como minha mente
O tempo passou
Assim como meu espÃrito
Que o tempo levou.
Hoje, acordei com uma esperança
Um resquÃcio de luz de que tudo mudaria
Oh, que tolice minha!
Mas não desistirei
Até meu último suspiro
Lutarei.
A Flor e o Colibri
Uma vez, me falaram que são nos lugares mais simples onde os melhores momentos da vida acontecem... nunca acreditei nisto. Eu morava em uma praça, havia lugar mais simples que este?
Um morador de rua, que grande futuro eu tinha? Pedir esmolas era a minha “profissão”. Em uma de minhas andanças, procurando o pão da semana passada, tudo o que consegui foi perder a visão. Indubitavelmente foi a coisa mais dolorosa da minha vida. Mas, naquele dia, eu me senti notável.... Até hoje recordo-me das pessoas ao meu redor “O que aconteceu?” “Ele foi mais uma vÃtima de violência” “Pobre garoto!” “Ajudem! Ajudem!”. Eles me alimentaram e me vestiram durante exatamente uma semana, dentro de um recinto hospitalar. Lembro-me de uma analogia que fizeram... Eu era como um pássaro ferido, um pequeno pássaro preso dentro de uma gaiola que em breve seria libertado... Naquela época, eu queria ficar naquela gaiola eternamente.
Meus pais não se importavam para mim, eu era simplesmente um instrumento de dinheiro nas mãos deles, mas nem por isso eu odiava-os... Afinal, eram os meus pais. Depois que fiquei deficiente, me abandonaram, e, por muito tempo, sobrevivi de pena. Ah pena... me perseguistes durante anos de diversas formas não? Eu era uma pena, sem rumo e sem controle, sempre a espera de ventos que me soprassem ,e, as vezes, até mesmo temporais. A única pena, que realmente fico feliz por não ter em minha história foi a pena de morte... Devo este escape a uma senhora que mudou a minha vida.
Lá estava eu, na mesma praça, com uma vida pacata... vida que, cada vez mais, desejava que partisse. Acreditava que isto era iminente, até que ela despertou-me de meus pensamentos...
- Garoto?
Era evidente que ela não falara comigo, a tempos não falava com ninguém... eu era apenas mais um corpo desprezÃvel em um mundo perdido.
- Garoto? Escutas-me?
- Sim, senhora
- Podes levantar-te?
Hesitante, fiz o que me pediu. E guiou-me até um banco onde o silêncio prevaleceu. Diversas coisas passaram em minha mente, mas o correto parecia permanecer calado... E assim fiquei.
- Estais com fome garoto?
- Sim, senhora
- Te alimentarei, se me responderes tudo que a ti perguntar
Com a fome que sentia, não poderia dar-me ao luxo de recusar absolutamente nada. Apenas assenti com a cabeça, sentindo medo do que era desconhecido.
- Qual seu nome?
- Meus pais me chamavam de moleque, senhora
- Onde eles estão agora?
- Eu não sei...
- Qual a sua idade?
- Idade?
- Quantos anos você tem?
- Antes de ficar cego, tinha 11
- Acho que deves ter 14, não sei ao certo... Mas então, qual é a sua história?
Eu lhe contei a minha vida, e ela me ouviu. Nunca ninguém havia me perguntado isso, muito menos, em troca de comida... Ela cumpriu o acordo e prometeu que voltaria no dia seguinte.
Durante semanas, a senhora me ajudou, em troca, ela cobrava uma coisa nova: Atenção.
Atenção para suas histórias, atenção para coisas novas. Ela me ensinara várias coisas... palavras, versos, poemas e poesias. A minha heroÃna me presenteou com a coisa mais bela que poderia imaginar: Um nome.
Eu não poderia vê-lo e nem tocá-lo, mas ele, como a minha vida, agora era real.
- “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”
- Quem escreveu esse, senhora?
- Manuel Bandeira, meu caro
- Um dia, eu quero escrever igual ao Manuel...
- Por que não começamos pelo nome?
- Como assim?
- Agora, te chamarás Manuel, que tal?
- Manuel... Eu sou Manuel?
- Sim meu caro, você é o meu pequeno e sagaz Manuel...
Uma vez que minhas necessidades foram atendidas, a ambição pelo saber aumentara gradativamente, e se manifestava de forma indescritÃvel ao ouvir a doce voz daquela senhora... Até que um dia, ela me deu o mais importante aprendizado.
- Manuel?
- Sim, senhora
- O que tu vês?
- Eu vejo o nada, nada além de uma escuridão infinita
- Não Manuel, olhai-vos com teus outros sentidos
- Outros sentidos?
- Escute, inspire e sinta o mundo a sua volta... O que vês?
Escutei pessoas conversando e gargalhando, inspirei o perfume das flores que nos cercavam e senti... senti a mão da senhora segurando a minha... ela era o meu porto seguro...
Após uma espera que parecia ser interminável eu conseguir enxergar a minha luz.
- Eu vejo pessoas anônimas, desconhecidas para a sociedade, mas protagonistas de suas próprias histórias.
- O que é a vida Manuel?
- A vida é um duro caminho no qual aprendemos a amar, a chorar, cair e se levantar... Todos somos estrelas na Terra, e devemos brilhar até a hora de nossas luzes se apagarem. Resplandecer e saber, que fizemos um bom trabalho. Devemos viver, com a esperança de que o próximo dia será melhor.
E pensar, que este era o começo de minha história...
A doce senhora, hoje, é a minha mãe. Não me tornei igual ao Manuel Bandeira, mas ultrapassei barreiras de um mundo estereotipado e hoje... hoje sou escritor.
E eu era o pássaro ferido, aprisionado em uma gaiola e libertado em um mundo de escuridão.
E eu era um colibri, voando na direção oposta, em busca da flor desconhecida
A flor?
A flor era a vida.
Um morador de rua, que grande futuro eu tinha? Pedir esmolas era a minha “profissão”. Em uma de minhas andanças, procurando o pão da semana passada, tudo o que consegui foi perder a visão. Indubitavelmente foi a coisa mais dolorosa da minha vida. Mas, naquele dia, eu me senti notável.... Até hoje recordo-me das pessoas ao meu redor “O que aconteceu?” “Ele foi mais uma vÃtima de violência” “Pobre garoto!” “Ajudem! Ajudem!”. Eles me alimentaram e me vestiram durante exatamente uma semana, dentro de um recinto hospitalar. Lembro-me de uma analogia que fizeram... Eu era como um pássaro ferido, um pequeno pássaro preso dentro de uma gaiola que em breve seria libertado... Naquela época, eu queria ficar naquela gaiola eternamente.
Meus pais não se importavam para mim, eu era simplesmente um instrumento de dinheiro nas mãos deles, mas nem por isso eu odiava-os... Afinal, eram os meus pais. Depois que fiquei deficiente, me abandonaram, e, por muito tempo, sobrevivi de pena. Ah pena... me perseguistes durante anos de diversas formas não? Eu era uma pena, sem rumo e sem controle, sempre a espera de ventos que me soprassem ,e, as vezes, até mesmo temporais. A única pena, que realmente fico feliz por não ter em minha história foi a pena de morte... Devo este escape a uma senhora que mudou a minha vida.
Lá estava eu, na mesma praça, com uma vida pacata... vida que, cada vez mais, desejava que partisse. Acreditava que isto era iminente, até que ela despertou-me de meus pensamentos...
- Garoto?
Era evidente que ela não falara comigo, a tempos não falava com ninguém... eu era apenas mais um corpo desprezÃvel em um mundo perdido.
- Garoto? Escutas-me?
- Sim, senhora
- Podes levantar-te?
Hesitante, fiz o que me pediu. E guiou-me até um banco onde o silêncio prevaleceu. Diversas coisas passaram em minha mente, mas o correto parecia permanecer calado... E assim fiquei.
- Estais com fome garoto?
- Sim, senhora
- Te alimentarei, se me responderes tudo que a ti perguntar
Com a fome que sentia, não poderia dar-me ao luxo de recusar absolutamente nada. Apenas assenti com a cabeça, sentindo medo do que era desconhecido.
- Qual seu nome?
- Meus pais me chamavam de moleque, senhora
- Onde eles estão agora?
- Eu não sei...
- Qual a sua idade?
- Idade?
- Quantos anos você tem?
- Antes de ficar cego, tinha 11
- Acho que deves ter 14, não sei ao certo... Mas então, qual é a sua história?
Eu lhe contei a minha vida, e ela me ouviu. Nunca ninguém havia me perguntado isso, muito menos, em troca de comida... Ela cumpriu o acordo e prometeu que voltaria no dia seguinte.
Durante semanas, a senhora me ajudou, em troca, ela cobrava uma coisa nova: Atenção.
Atenção para suas histórias, atenção para coisas novas. Ela me ensinara várias coisas... palavras, versos, poemas e poesias. A minha heroÃna me presenteou com a coisa mais bela que poderia imaginar: Um nome.
Eu não poderia vê-lo e nem tocá-lo, mas ele, como a minha vida, agora era real.
- “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”
- Quem escreveu esse, senhora?
- Manuel Bandeira, meu caro
- Um dia, eu quero escrever igual ao Manuel...
- Por que não começamos pelo nome?
- Como assim?
- Agora, te chamarás Manuel, que tal?
- Manuel... Eu sou Manuel?
- Sim meu caro, você é o meu pequeno e sagaz Manuel...
Uma vez que minhas necessidades foram atendidas, a ambição pelo saber aumentara gradativamente, e se manifestava de forma indescritÃvel ao ouvir a doce voz daquela senhora... Até que um dia, ela me deu o mais importante aprendizado.
- Manuel?
- Sim, senhora
- O que tu vês?
- Eu vejo o nada, nada além de uma escuridão infinita
- Não Manuel, olhai-vos com teus outros sentidos
- Outros sentidos?
- Escute, inspire e sinta o mundo a sua volta... O que vês?
Escutei pessoas conversando e gargalhando, inspirei o perfume das flores que nos cercavam e senti... senti a mão da senhora segurando a minha... ela era o meu porto seguro...
Após uma espera que parecia ser interminável eu conseguir enxergar a minha luz.
- Eu vejo pessoas anônimas, desconhecidas para a sociedade, mas protagonistas de suas próprias histórias.
- O que é a vida Manuel?
- A vida é um duro caminho no qual aprendemos a amar, a chorar, cair e se levantar... Todos somos estrelas na Terra, e devemos brilhar até a hora de nossas luzes se apagarem. Resplandecer e saber, que fizemos um bom trabalho. Devemos viver, com a esperança de que o próximo dia será melhor.
E pensar, que este era o começo de minha história...
A doce senhora, hoje, é a minha mãe. Não me tornei igual ao Manuel Bandeira, mas ultrapassei barreiras de um mundo estereotipado e hoje... hoje sou escritor.
E eu era o pássaro ferido, aprisionado em uma gaiola e libertado em um mundo de escuridão.
E eu era um colibri, voando na direção oposta, em busca da flor desconhecida
A flor?
A flor era a vida.
Trecho "Música"
[...]
E por mais clichê que fosse, apenas fiz o que ordenou.
Em meio a uma escuridão infinita, a música se espalhava naquele recinto, onde não sabÃamos determinar o começo ou fim.
Não vi seus olhos esperançosos, nem senti o seu abraço, e a única certeza que tinha era de sua presença. Nossos pensamentos pairavam, sem se revelarem, e cada vez mais indagava qual enigma escondiam.
Que segredos ainda teriam que se revelar? O que o atormentava? O que me amedrontava?
Apenas o escutei sussurrar
- As músicas nos fazem lembrar de momentos sabiam?
E recordei-me, de tudo o que já havia acontecido, como cheguei até aqui.
- Um dia, você escutará essa música e se lembrará de mim, assim como me lembrarei de você.
Com aquelas últimas palavras, percebi que, o perfume de minha flor não seria esquecido. Eu não seria esquecida.
Lembro-me da última coisa que pensei naquele dia:
Assim como aquela música, estarei bem aqui esperando por você.
E por mais clichê que fosse, apenas fiz o que ordenou.
Em meio a uma escuridão infinita, a música se espalhava naquele recinto, onde não sabÃamos determinar o começo ou fim.
Não vi seus olhos esperançosos, nem senti o seu abraço, e a única certeza que tinha era de sua presença. Nossos pensamentos pairavam, sem se revelarem, e cada vez mais indagava qual enigma escondiam.
Que segredos ainda teriam que se revelar? O que o atormentava? O que me amedrontava?
Apenas o escutei sussurrar
- As músicas nos fazem lembrar de momentos sabiam?
E recordei-me, de tudo o que já havia acontecido, como cheguei até aqui.
- Um dia, você escutará essa música e se lembrará de mim, assim como me lembrarei de você.
Com aquelas últimas palavras, percebi que, o perfume de minha flor não seria esquecido. Eu não seria esquecida.
Lembro-me da última coisa que pensei naquele dia:
Assim como aquela música, estarei bem aqui esperando por você.
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