Não sei o quanto te conheço, mas com todos esses anos em nossas costas tenho um mapa mental de cada expressão que você tem. Sei que você franze o cenho quando fica perdido no meio de uma conversa, sei que arqueia levemente as sobrancelhas quando se surpreende com uma atitude inesperada e que tem o meio sorriso mais lindo do mundo, e eu faço de tudo para que ele seja apenas meu.

Não sei o quanto te quero, mas sei onde e em qual lugar gosto te encontrar. Sei que adoro ouvir um “Vamos sair hoje?”, principalmente quando vem acompanhado de “Preciso da tua opinião para comprar algumas roupas”, porque sei quanto tempo demoramos para voltar. Sei que ganho o dia quando corro contigo no meio de uma chuva procurando lugar para ficar até estiar e começamos a rir como dois idiotas totalmente ensopados. Sei que a melhor memória que tenho de nós dois é refeita semanalmente, quando te encontro no final da escada do nosso prédio e você me dá o abraço mais gostoso do mundo.

Não sei o quanto me importo com você, mas sei que quando te vejo penso em todas as desculpas possíveis só para poder te tocar. Sei que passei a deitar com o celular ligado para o caso de você ligar no meio da madrugada, e sei que posso fazer isso mesmo se você estiver na Austrália que me atenderá do mesmo jeito. Sei que passo noites sem dormir se não me der um sinal de notícia e esqueço o que a palavra “sono” significa. Sei que, se for para te ter ao meu lado mesmo que por um final de semana, eu vendo doces na rua só para pagarmos tua passagem e ter os três dias mais felizes do ano.

Não sei o quanto quero te ver feliz, mas sei que faço de tudo por isso. Te deixo ir, te deixo ficar, te deixo ser meu e um pouco mais. Me entrego a ti e me desfaço, se você estiver disposto a fazer isso também. Não precisamos saber nosso começo ou fim, só tenha a certeza de que não serei egoísta e não espero isso de você: quero te dar e receber tudo nas mesmas proporções, quero que sejamos um reflexo sempre em equilíbrio.

Não sei o quanto te quero na minha vida, mas sei que te quero para sempre. Te quero hoje, te quero amanhã, te quero até onde Deus nos permitir ir. Te quero na minha cama, enrolado em nossos lençóis quando acordar daqui a 10 anos, com uma cara de atordoado me perguntando se já está atrasado para o trabalho. Te quero na frente da escrivaninha fazendo seus cálculos que tanto adora e questionando quanto tempo falta para viajarmos novamente.
Te quero com os joelhos no chão ao meu lado, agradecendo por mais um dia que vivemos. Te quero de mãos dadas e olhando sempre para frente, mas sem esquecer dos nossos altos e baixos.

Não sei o quanto te amo, mas sei que nunca ouve um “se” ao invés do “quanto”. Sei que apenas te amo.

Pra quê cobrar palavras tão clichês quando um amar é tão vasto e repleto de significados? Amar não é apenas dizer eu te amo em um encontro, muito menos uma frase que você guarda no bolso até a hora certa.

Amar é nem saber que está amando aquele alguém especial. É entrar em sintonia com outra pessoa, abdicar uma parte do que é só seu e entender que a palavra "intransferível" não existe para você. É dormir lado a lado e igualar a respiração sem perceber, é ver a vida dentro de um par de olhos que sorri para você e te chama para a maior aventura que você poderia ter.

Amar é calçar os chinelos errados em uma manhã de domingo e fazer cara de bobo quando vê que não é o seu número. É passar duas horas para escolher uma roupa imaginando "será que essa está legal?". É sentir um ciúme irracional só por imaginar o que poderia ter sido da sua pessoa se encontrasse qualquer outra que não fosse você.

Amar é ler e associar tudo isso a apenas uma única pessoa, porque o amor exige certeza. Não há imprecisões para dizer o teu nome, muito menos o que sinto por você. Mesmo com os nossos altos e baixos, eu sei que no final dessa montanha russa a gente desce e vai brincar em outros lugares do parque.

Oh meu bem!

Hoje a saudade bateu na porta, pediu para entrar e tomar um café, ofereci o melhor lugar da casa e tratei de trazer aquela fatia de bolo de laranja para acompanhar a prosa.

Falamos sobre o tempo que não volta mais, e paramos para recordar sobre como era bom ser criança. Na malinha que trazia rente ao corpo, mostrou fotos de momentos que havia esquecido por conta da correria que é ser adulto, mas de forma inexorável, insistiu que maratona nenhuma deveria deixar memórias tão preciosas se perderem assim.

Mas bem, deixa te contar: A saudade bateu mesmo na minha porta só para me fazer vir aqui. Ela me contou quantas vezes te visitou nesses últimos anos e por quantas reformas você passou sem tirar a nossa foto da moldura principal. Mandou deixar de lado toda baboseira que faz dos nossos lares tão cheios de novidade e ao mesmo tempo, tão vazio de nós dois. E sabe, já limpei tantas vezes o carpete da sala, mas não consegui apagar as marcas que você deixou. Os meus papéis de parede? Troquei! São lindos por sinal, mas todos que passaram por aqui tiveram a mesma característica: os versos que eram escritos no guardanapo da nossa lanchonete favorita. O quarto agora não parece tão solitário quanto no início, porque o tempo me ensinou a crescer o suficiente para ocupar uma cama sozinha sem sentir frio, mas é inegável que deitar com você tornava meu dia melhor.

Meu bem, saiba escolher as visitas na sua residência. Não deixa o rancor tomar conta de uma história que foi tão linda um dia. Coloca as flores mais alegres na tua varanda e permita-se ver o que um dia encheu teus olhos de emoção outra vez. Eu sei que estou presente em cada janela da tua sala, e em cada estrela no teu céu, porque foi assim aprendemos a amar: deixando um rastro por onde passar, e dessa maneira, uma parte de si.

Quando terminar de ler este recado, por obséquio, abre a porta para mim. A saudade já me matou várias vezes, e não suporto mais nenhuma visita dela sabendo que você está no outro lado da rua. Trouxe aquele bolo de laranja para acompanhar uma prosa, se encarregue do café - com leite -.